Versão modificada do capítulo segundo do livro O Tao do Violão, que traz a ideia de um violão cósmico ou holístico, fundamentado no AUM, o som original. E, ainda, lança uma nova teoria que norteia a abordagem: os símbolos zodiacais são símbolos sonoros. Veja sobre a astrologia sonora.

“Onde cada ser vivo nasce, ali ele terá de deitar raízes. Isso acontece com a ajuda de Touro. A nova criatura come e assimila o alimento. Dessa forma se estabelece a ligação material com este mundo, criando-se uma linha de apoio para o corpo” (*1).

Intervalo natural: Segunda menor
Grau na escala cromática: 2
Essência: Touro
Nota no universo de D (ré): Eb
Nota no universo de C (dó): Db

“Portanto, Nada Brahma não significa apenas Deus, o Criador. É som, mas, também, e acima de tudo: a criação, o cosmos. O mundo é som. E o som é mundo. Mas Nada Brahma também significa que o som é alegria. E até o vazio é som. Enfim: o espírito e a alma são som” (*3).

 

“AUM, o som original, é o som primordial do qual consiste todo o universo; somos feitos de música. Desta forma, se nos movermos totalmente rumo a qualquer
direção ou coisa, apenas a música restará e tudo mais desaparecerá, porque a música é nosso elemento constituinte; todo o restante é arbitrário, artificial, inventado. Apenas a música escondida em nossas almas não é inventada,
é parte de Deus. Deus é o músico e nós somos Sua música. Ele é o bailarino e nós somos Sua coreografia. Ele é o poeta, e nós, Sua poesia. Ele é o cantor e nós, Sua canção. Este é o significado de AUM” (Osho *2).

A oração que deu origem ao Pai Nosso merece ser citada:

“Pai-Mãe, Respiração da Vida, Fonte do Som, Ação Sem Palavras, Criador do Cosmos! Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós, para que possamos torná-la útil. Ajude-nos a seguir nosso caminho respirando apenas o sentimento que emana de Você. Nosso eu, no mesmo passo, possa estar com Você, para que caminhemos como Reis e Rainhas com todas as outras criaturas. Que o Seu e o nosso desejo sejam um só, em toda a Luz, assim como em todas as formas, em toda existência individual, assim como em todas as comunidades. Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós, pois assim sentiremos a Sabedoria que existe em tudo. Não permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo nos iludam, e nos liberte de tudo aquilo que impede nosso crescimento. Não nos deixe ser tomados pelo esquecimento de que Você é o Poder e a Glória do Mundo, a Canção que se renova de tempos em tempos e que a tudo embeleza. Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações. AMÉM” ( *19).

“Abvum d’bashmaia
Netcádash shimóch
Tetê malcutách Una
Nehuê tcevianách aicana
d’bashimáia af b’arha
Hôvlan lácma d’suncanán
Iaomána
Uashbocan háubein uahtehin
Aicána dáf quinan shbuocán
L’haiabéin
Uêla tahlan l’nesiúna.
Êla patssan min bíxa
Metúl dilahie malcutá
Uaháila
Uateshbúcta láhlám.
ALMÍN.”

Para falarmos em música, dentro de uma visão profunda e abrangente, seu lugar,
sua importância no desenvolvimento do ser humano, sua existência, é necessária uma reflexão sobre a fonte de toda a criação, o centro de onde tudo se irradia. Fazendo assim, iremos compreender por que a música, desde sempre, está associada a um intercâmbio com outras dimensões, como também o porquê da sua tendência natural – quando é “bela”, bem proporcionada, harmônica em suas “medidas” – de nos remeter a estados de profundo bem-estar.

A natureza está cheia destes exemplos da grande ordem e perfeição das proporções divinas: o arco-íris, a abóbada celeste, as espirais das conchas marinhas, as órbitas planetárias. Estes são exemplos dos objetos de estudo da geometria sagrada.

A proporção harmônica contida no AUM, o som original

Figuras 1 e 3: A proporção obtida pela divisão de uma linha em duas partes diferentes, de tal forma que a razão entre a porção menor e a maior é idêntica à razão existente entre a porção maior e a linha inteira é conhecida como “seção áurea”, uma teoria matemática da proporção perfeita. “Matematicamente
falando, é realmente uma proporção de extraordinária beleza e perfeição” (Rudolf Wittkower).
A proporção “irracional” (de aproximadamente 0,618:1) aproxima-se cada vez mais dela. Foi primeiramente discutida por Euclides e mais tarde descoberta pelo matemático italiano Fibonacci (1175-1230), que propôs a razão entre os números consecutivos – que começa com 1,1 e continua adicionando – se os últimos dois
números para se obter o próximo na seqüência, ou seja: 1,1,2,3,5,8,13,21,34,55,89… A “Série de Fibonacci” é encontrada na natureza no arranjo dos pinhões, no cone da pinha e no arranjo das sementes do girassol;
portanto tem uma base na natureza.
Figura 2: A figura humana de Vitrúvio desenhada por Leonardo da Vinci (1452-1519).

A harmonia oriunda de AUM, o som original

Os oito trigramas do I Ching

Antes de analisarmos o fenômeno musical em si, e entrarmos no assunto “violão”,
relembraremos essa fonte de tudo, AUM, o som original, o centro da irradiação eterna.
Esta descrição está nas grandes obras da antiguidade, a Bíblia, o Rig Veda, e também confirmada nas mais recentes descobertas da ciência acadêmica, de que tudo é energia, de que tudo é vibração. Esta vibração, este “verbo”, AUM, o som original, este núcleo irradia suas propriedades divinas de amor, de perfeição, de beleza, de harmonia, para todas as coisas universais, fazendo com que tudo seja também energia regida por essas mesmas leis. Assim, a vida do universo multidimensional é uma teia de vibrações, com ciclos dentro de ciclos, mundos dentro de mundos, sistemas dentro de sistemas, cujo som original é Deus, nota fundamental que permeia tudo com a Sua essência. As flores, os animais, os planetas e suas órbitas, as constelações, os sistemas, os sóis são movimentos
cósmicos com ritmo e periodicidade, todos regidos pela vibração mais pura do som original. Essas “mensagens” divinas aparecem, em todas as coisas, em forma de geometria sagrada, espirais e ciclos de oitavas. O conceito AUM, o som original, servirá de base para entendermos as medidas divinas com suas infinitas espirais: os harmônicos do fenômeno sonoro, o código DNA, o I Ching, a notação binária, elementos da cosmologia Maia e da astrologia tradicional, e outras formas evidentes da grande ordem sincrônica divina.

“Este sutil ‘zumbir’ vem sendo ouvido há séculos por meditadores. No Oriente, um nome especial lhe foi dado, OM (AUM, o som original). Não é precisamente OM, mas algo similar (…) qualquer um que se torne extremamente silencioso (…) é o próprio silêncio a cantar, é a canção do silêncio” (Osho *3).

“O símbolo AUM, então, consiste de quatro elementos. Três deles são os sons básicos: aa-uu-mm – A, U, M. Estes são os sons básicos; todos os outros sons são derivados destes três sons. Esta é a real trindade, a trindade dos sons. Todos estes três sons emergiram a partir do quarto, porém o quarto é inaudível, não pode ser escutado. O quarto som é representado apenas por um ponto; este ponto é denominado anuswar (…)

Om - o som orginal

AUM, o som original ou OM

(…) Você também pode pensar nisto (AUM, o som original) de outra maneira: marque um ponto em uma folha de papel – este é o centro – e então desenhe três círculos concêntricos à sua volta. O último círculo concêntrico, o maior deles, será A, o primeiro. O segundo círculo, U, estará exatamente entre o primeiro e o terceiro. E então o terceiro círculo concêntrico, mais próximo do ponto, do cerne, será M. E o ponto – o centro de todos estes três círculos concêntricos, destas três circunferências – é o anuswar: o som mudo; o que os Mestres Zen chamam de ‘o som de uma mão batendo palmas’. A Mandukya Upanishad (*2) o denomina ‘o quarto’ – turiya – sem outorgar a ele nome algum, mas simplesmente um número (…)

Compreendendo AUM, o som original

(…) Os três, os três primeiros sons, representam seus três estados, e o quarto, sua natureza interior. O ser humano é também exatamente como o AUM, o som original, um universo em miniatura. Se pudermos decifrar o ser humano, seremos capazes de decifrar toda a existência. Se pudermos conhecer uma única gota de orvalho em sua totalidade, teremos conhecido todos os oceanos, pois teremos dissecado uma única partícula que contém o segredo de todos os oceanos. Chegaremos ao conhecimento da fórmula H2O, e este é o segredo” (Osho *4).

A música nos ajuda, e muito, a decifrar o que somos. A essência ômnica se ramifica dando nascimento a tudo que existe. O homem tem procurado simbolizá-la de diversas maneiras: a concepção ancestral do AUM, o som orginal, a da sabedoria milenar chinesa do Yin e do Yang, a maia do Hunab Ku são algumas destas formas. Vamos nos guiar por elas para entendermos como nasceu a linguagem musical moderna.

“A teoria do Yin e do Yang por certo deve muito aos músicos – mais ainda, talvez, do que aos astrônomos e aos adivinhos” (*12).

A metáfora frequencial de AUM, o som original

A concepção do Yin e do Yang

“De cada ponto do universo Deus se manifesta como quádruplo. Em cada uma das quatro direções da Terra e do Céu Ele se irradia com um efeito diferente. E como esses fluxos de energia, que embora originados do mesmo ponto, são tão diferentes, provêm todos de uma unidade paradisíaca, podemos representá-los como se fossem quatro grandes rios que brotam do centro do paraíso, onde estão enraizadas a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal, e correm para o mundo exterior em quatro direções diferentes” (*1).

Símbolo Maia do sol central: Hunab Ku, com as quatro direções de efeitos distintos: Sul, fogo; Leste, água; Norte,
ar; Oeste, terra. AUM, o som original da civilização maia.

“São as quatro manifestações divinas, cada uma contendo os três aspectos originais de Deus” (*1).

A partir daqui já podemos conceber a fórmula contida em todos os seres e coisas
do universo tridimensional.

“Como mostra a representação simbólica da pirâmide, cada uma das Quatro Faces de Deus contém os três aspectos divinos. Isso resulta em uma manifestação duodécupla, presente em cada ponto do universo e atuante em tudo o que existe, a começar das criaturas individuais que vivem nos planetas, mas também nos próprios planetas, nos sóis, nos sistemas solares, nos sistemas universais e em todo o universo, exatamente como pequenos círculos dentro de maiores, e círculos maiores dentro de círculos ainda maiores, continuando assim até o infinito. Se você conhecer um desses círculos, conhecerá a estrutura interior não apenas de todo o universo, mas também de cada ser vivo. Pois todo o universo visível está fundamentado nessa manifestação duodécupla de Deus” (*1).

O princípio dos pólos opostos complementares é o que se apresenta aqui.

Essa dissonância, representada pelo símbolo aquariano, cria a tridimensional
“cadeia da vida”; a energia primordial se torna a corrente de ar aquariana que dá vida ao pai do Zodíaco, Leão, que lhe dá nascimento. Podemos fazer uma analogia perfeita do Zodíaco com a escala musical cromática (detalhes no cap. 8), ambas com 12 passos naturais. Por isso, relembraremos o que é o Zodíaco, pois esta compreensão vai facilitar aquela dos sons da escala musical. Aquário, quando desencanta, aparece, se manifesta, definindo o “movimento” da pulsação divina e seus 12 passos cíclicos de maturação: o mundo das coisas, o mundo transitório. Ele alimenta o pai do triângulo de fogo, Leão, que energiza toda a cadeia da vida. O calor da sua radiação nos dá a força vital no âmbito dessa existência, para que possamos regressar ao equilíbrio absoluto da consciência
original. Assim nasce o ciclo absoluto, presente em tudo o que há. Esse 11 (Aquário) é muito representativo da dualidade, a separação, 11, como o símbolo chinês do Yin e Yang, por onde AUM, o som original deságua…

No Zodíaco encontramos o sentido análogo à linguagem musical moderna.
Quando passarmos à prática musical, encontraremos uma profunda analogia sonora com a linguagem energética do Zodíaco. Vamos ouvir o que é uma dissonância ou uma consonância, o que é Yin ou Yang, fogo ou água, e essa perspectiva, em analogia com os ciclos divinos, trará um imenso significado ao nosso desenvolvimento musical e espiritual (3). Explicar como fazer música para o bem-estar é mostrar simplesmente essas medidas regulares presentes em toda a cadeia da vida, que a tornam “cadeia” e “vida”, a roda perpétua, samsara, segundo os orientais: os ciclos de morte e renascimento até a volta ao repouso absoluto. Nesse estudo, queremos que a linguagem racional da música e seu lado intuitivo se fundam, tão intimamente, que tal integração nos leve a expandir a consciência como um todo, e a aprofundar e desenvolver o aprendizado da arte musical.
Explicar a escala musical é bem mais simples a partir da perspectiva que os sábios egípcios da antiguidade têm da criação. O que é difundido é que houve uma “dissonância” entre as forças cósmicas primordiais, que causou uma “queda” da energia de seu absoluto estado de repouso e equilíbrio, o Big Bang (AUM, o som original), o que resultou na criação de todas as coisas. A energia, em seu absoluto estado de equilíbrio e repouso, é não-dual, una, eterna e perfeita. A partir da “explosão”, então aparece a dualidade e suas medidas divinas, seus pólos complementares.

“Longe vou
Eu vou longe, vou buscar meu Amor
Que perdi
E quebrei o vaso e a flor”
(Song of Radha – do CD Tamboura Guitar, de Arun)

Representação gráfica da “queda”: Aquário alimenta Leão, que dá o calor necessário à vida.

“(…) que verte incansavelmente o seu pote de água da vida, cujas ondas fluem até os mundos mais distantes” (*1).

Entre Aquário e Leão, pólos opostos complementares, percebemos que Leão
(trítono) (ver Glossário e cap. 7) está no centro da “onda” de Aquário (fundamental), e é a nota mais tensa desta. O fogo que dá vida à nova dimensão, o mundo da criação.
Quando surge Aquário, uma nova fundamental aparece: Áries.
Libra, o signo oposto a Áries, se torna a nota mais tensa dessa nova onda, e a
que impulsiona a essência de volta ao repouso, o “caminho do meio”, estando para Áries como Leão estava para Aquário, o ponto de entrada original da energia. A mensagem é que, através do uso consciente – Libra – da nossa energia bruta – Leão –, a vital ou instintiva, podemos nos elevar até os píncaros do Ser – Aquário.

Libra: a nota mais tensa de uma nova dimensão – transitória –, o ponto de
apoio para a volta ao lar cósmico.

A onda-mãe primordial, contida no AUM, o som original, com as 12 etapas de maturação, começando em Áries, cujo centro é Libra, e terminando em Áries, em outra dimensão, é uma fórmula que existe em tudo o que há. Tudo nasce, cresce, floresce, amadurece, fenece e se extingue.

A concepção astrológica maia parece bem mais profunda do que a tradicional.
É uma cosmologia baseada no Sol Pleiadiano, em torno do qual o nosso Sol leva 26 mil anos para orbitar. A sabedoria dos maias está fundamentada em um sistema solar muito mais abrangente que o nosso, e nos ensina que o ciclo se completa ao retornar a si mesmo. Por isso é bom observarmos que o 13 é Áries novamente, em outra dimensão, ou oitava. Estas analogias se baseiam na ciclicidade das espirais.

A posição fixa das constelações, fórmula contida em todas as coisas da existência.

Em suma, a queda do repouso absoluto é uma dissonância que vaza por Aquário,
o número 11 da roda zodiacal, que gera o fogo (pai do Zodíaco), Leão, o número 5 da roda, que coloca em movimento os ciclos mecânicos dos seres animados e inanimados da existência.

“Ao longo da história da humanidade podemos perceber o reconhecimento de um Espírito Superior, o Espírito Santo, o Confortador, e um grande número de conceitos afins apontando ao Mundo Superior. Tal testemunho de todas as eras e povos há de compelir mesmo o ignorante à reflexão.
Toda a humanidade não pode estar enganada!
Sob as mais diversas condições as pessoas pressentiram a mesma suprema e misteriosa Origem. As pessoas consideraram a manifestação do espírito
como a pedra filosofal. Podemos encontrar os mais multiformes sinais da grande Realidade preservados pelos povos. E não se trata de uma sugestão
de interesse pessoal, mas de discernimento da Verdade. Que as pessoas busquem pelo antigo Egito, Babilônia, por entre a oculta cultura dos
maias; e, em todo lugar, além dos símbolos sutis, podem ser encontrados os mesmos conceitos fundamentais. Assim, a ciência pode conduzir ao
Mundo Superior” (Agni Yoga *2).

“A existência é harmonia; ela não é anarquia. Ela não é um caos; é um cosmos, uma unidade. Tão complexa, tão vasta, e ainda assim una. E a vida pulsa – desde o mais ínfimo átomo até a mais longínqua estrela. Comprimentos de ondas variam, pulsações têm diferentes frequências, mas o Todo pulsa em profunda unidade, em harmonia. Plotinus denominou a isto ‘a música das esferas’. Toda a existência é uma música. É musical em outro sentido, também. O yoga, o tantra e todas as linhas que têm trabalhado esotericamente na jornada interna da consciência humana afirmam que a vida consiste de som; a existência consiste de som” (Osho *5).

AUM, o som original. Conscientizemo-nos da importância da arte musical para a evolução humana!!

2 As Upanishads são a essência filosófica da milenar sabedoria dos Vedas, na tradição espiritual da Índia. Esta Upanishad é considerada a essência dos ensinamentos contidos em todas as 108 Upanishads, e seu tema central é a sílaba mística OM. O texto trata primeiramente do OM, segundo a doutrina dos três estados, vigília, sonho e sono sem sonho, passando a se referir ao quarto estado de consciência por Turya, situado além dos três citados (*14).

3 Esse estudo é mais poético do que científico, no sentido acadêmico. É uma manifestação intuitiva de tudo que o coração encontrou pelo caminho. Procurando entender o porquê de a linguagem musical ter sido desenvolvida do jeito como é ensinada nos dias de hoje, tivemos que buscar, mais fundo, a própria origem da existência tridimensional. Os porquês, as possibilidades e o aprofundamento dessas questões, deixaremos para as mentes mais brilhantes e científicas.